sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

A Minha experiência no Grupo Vocacional de Teatro do CCJ


A MINHA EXPERIENCIA COM O VOCACIONAL –CCJ 2018-

Diz o poeta alemão Bertold Brecht: “De nada vale partir das coisas boas de sempre, mas sim das coisas novas e ruins.”
Ruim pra mim, que tive que jogar a preguiça de lado, não sei se é deste ruim que o Brecht diz nessa frase, mas é com essa impressão que eu fico e tomei pra mim. Tentar ser ator num mundo de hoje é um ato para malucos, ou um pouco menos que isso, eu diria, apaixonados. Ter uma deficiência física no meio disso tudo, faz a gente querer pensar em desistir do ofício diversas vezes, muito mais do que suas contas chegando, ou os seus pais perguntando se você quer morrer de fome. A televisão quer pessoas com corpos “bonitinhos” e tudo bem se você vai fazer uma madame ou um porteiro, desde que você tenha todos os dentes no lugar.  Daí bate a preguiça de querer continuar estudando, de continuar se percebendo. Pensava eu: “Ler Stanislavsky pra quê? se por mais que isso seja essencial eu não tenho o tal physique du rôle que tanta gente diz que é necessário se ter pra ser um bom ator” Tomara que eu seja um ignorante ao dizer isso, mas  a maioria das pessoas veem deficientes sendo incluídos e isso é a coisa mais “fofinha” do mundo. Quando eu comecei no vocacional as pessoas começaram a perguntar se eu fazia parte de um projeto de inclusão, se tinham outras pessoas com deficiência, e não a quanto tempo eu sou ator e trabalho com isso, elas não esperam que você seja um artista qualquer, esperam que você deixe de ser uma caixinha de cristal fora da roda, e só! Daí vem a preguiça, só que quando você começa a ser cobrado dentro de um processo como qualquer outro ator dentro de uma peça, os seus conflitos internos mudam, você se anima e tenta descobrir ao lado do diretor porque você deambula  assim, se é condicionamento, se é devido a alguma lesão. Por que seus braços se movem assim, por que suas pernas se mechem desse jeito, tem certeza de que isso foi devido a paralisia cerebral ou é só um hábito seu? A partir desses questionamentos, dessa pesquisa trabalhosa, porque nunca parei pra pensar nisso nos meus 25 anos de idade, entendi que sim, possuo condicionamentos, vícios, como qualquer outro ator no mundo e que pra criar a minha persona alguns desses condicionamentos podem ser quebrados, remodelados, excluídos. Então eu comecei a ser cobrado dentro do processo do vocacional  como alguém que é capaz de moldar, de construir algo, e não como um bebê que recebe palmas por fazer montinhos de areia, porque eu tive a chance de me fragmentar e ter uma perspectiva  a partir dos meus limites como qualquer outro ator tem que ter. Então a partir dessa cobrança séria eu pude desenvolver o meu trabalho e me sentir um ator que foi incluído dentro do vocacional, dentro de uma peça, e não um deficiente que foi integrado.